Meditações Matinais – Outubro 2012

 

 

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1º de outubro Segunda

O Deus do Inesperado

Antes de clamarem, Eu responderei. Isaías 65:24

Ao longo dos anos, pouco a pouco, tenho aprendido a esperar em Deus. Saber, não apenas racionalmente (pois essa é a parte mais fácil), mas emocionalmente, que absolutamente nada pega Deus de surpresa. Aquilo que nos pega desprevenidos, deixando-nos perplexos e consternados, não O assusta. Ele é o Deus do inesperado.
Algum tempo atrás, viajei para Seattle, Washington, EUA, para realizar uma série de pregações num acampamento. Hospedei-me num hotel próximo do local e fazia o trajeto de ida e volta ao acampamento em um carro alugado. Alguns amigos de Seattle ficaram sabendo que eu estaria na cidade naquele período e entraram em contato comigo para combinarmos um encontro depois que a série de pregações chegasse ao fim. Após o último sermão no sábado pela manhã, combinamos de fazer um piquenique, ir até o Monte Rainier para uma caminhada e voltar para a cidade para o jantar.
Quando minha secretária fez a reserva de hotel, a atendente não tinha certeza quanto à disponibilidade de vaga para parte do período de minha estadia. Assim, uma semana antes da viagem, liguei para confirmar a reserva. A atendente garantiu que estava tudo certo.
Aquele sábado, o último dia de minha visita à Seattle, foi inesquecível. O culto, o passeio nas montanhas e a companhia dos amigos foram uma bênção. Voltei ao hotel cansado, mas feliz. Havia sido um dia perfeito. Bem, não tão perfeito assim. Abri a porta do meu quarto e fiquei totalmente chocado: a cama estava arrumada, mas todos os meus pertences tinham sumido. Atordoado, corri para a recepção. Em vez de um pedido de desculpas, recebi uma resposta irritada: “O senhor deveria ter saído hoje de manhã! Outro cliente está aguardando para ocupar o quarto!” Minha resposta foi igualmente irritada; mas eles me mostraram que minha reserva havia terminado pela manhã. E meus pertences? Estavam numa caixa de papelão!
No fim, percebi que aquilo tudo se tratava de um erro honesto por parte do hotel e eles, por sua vez, perceberam que eu não estava mentindo. Eles ligaram para todos os hotéis da região na tentativa de encontrar um lugar para eu passar a noite, mas estavam todos completamente lotados. Assim, comecei a cogitar a ideia de passar a noite no saguão do aeroporto. Então surgiu a proposta: o trailer para uso do hotel que ficava no estacionamento. Não tinha iluminação, mas teria uma cama para dormir. Aceitei na hora. O Deus do inesperado agiu novamente.

 

2 de outubro Terça

Somos Pó


Pois Ele sabe do que somos formados; lembra-Se de que somos pó. Salmo 103:14

Apesar de todo o progresso e conhecimento, nós, seres humanos, ainda somos muito frágeis. Mesmo o maior e mais forte jogador de futebol adoece, se machuca e morre. Somos pó.
Reconhecer e aceitar essa fragilidade é sinal de maturidade. Trata-se simplesmente de uma avaliação realista de quem e o que somos. Assim, no famoso poema “Abadia de Tintern”, o poeta inglês William Wordsworth refletiu:

Pois aprendi a contemplar a natureza, não como o fazia
Impensadamente em minha juventude; mas ouvindo
A música dolente e imóvel da humanidade,
Nem áspera nem dissonante, mas de poder suficiente
Para corrigir e acalmar.

Outro poeta, Percy Bysshe Shelley, observou em “A uma Cotovia”:

Da saudade ao sonho aspiramos tanto!
Nosso ar mais risonho é da dor o manto,
Nossas canções mais suas são as de maior pranto.

Se discorrermos demais a respeito de nossa fragilidade, podemos chegar ao ponto do desespero, exceto por um elemento salvador: a graça. Deus Se lembra de que somos pó. Que esta vida, infinitamente linda, é infinitamente triste. A graça traz esperança, traz força e determinação.
Abra sua Bíblia em qualquer passagem e encontrará Deus atuando em favor da humanidade errante. Eis uma passagem dos dias dos reis de Israel: “O Senhor viu a amargura com que todos em Israel, tanto escravos quanto livres, estavam sofrendo; não havia ninguém para socorrê-los” (2Rs 14:26). Essa é a humanidade, esses somos nós.
Mas continue a leitura: “Visto que o Senhor não dissera que apagaria o nome de Israel de debaixo do céu, Ele os libertou pela mão de Jeroboão” (v. 27). Isso é libertação; isso é graça.
Deus ainda é o mesmo. Hoje.
3 de outubro Quarta

A Sabedoria dos Mokens


Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal. Mateus 6:34

Nas ilhas na área costeira da Birmânia e da Tailândia, vive um povo quase intocado pela civilização moderna. Esse povo se chama moken. Os mokens nascem no mar, vivem no mar e morrem no mar. São nômades, constantemente mudando de ilha para ilha, chegando a viver mais de seis meses ao ano em barcos.
Os mokens não sabem quantos anos têm. A visão que possuem do tempo é bem diferente da nossa. A palavra “quando” não existe em sua língua. Eles também não têm a palavra “querer” em seu vocabulário. Eles querem muito pouco; não têm desejo de acumular nada. Quando se é nômade, os bens apenas atrapalham.
A sabedoria antiga não difere tanto do conselho de Jesus a Seus seguidores: “Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir.” Ele disse: “Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa?” (Mt 6:25).
Há mais ainda o que aprender com a sabedoria dos mokens. Eles têm intimidade com o mar. Sabem decifrar seu humor e emoções melhor do que qualquer oceanógrafo. Existe entre eles uma lenda transmitida de geração em geração a respeito da Laboon, a “onda que se alimenta de humanos”. Antes de ela aparecer, o mar retrocede.
Em 26 de dezembro de 2004, os mokens viram o mar retroceder – e sabiam o que estava prestes a acontecer. Eles fugiram para lugares altos antes de a primeira onda chegar. Alguns dos mokens estavam com seus barcos no mar no momento em que a água retrocedeu. Sabiam exatamente o que fazer: navegaram imediatamente para águas mais profundas. Assim como os mokens que estavam em terra firme, eles sobreviveram ao ataque do tsunami.
Todos os que estavam à volta dos mokens perderam a vida. Alguns pescadores de lulas não notaram nada incomum. De repente, o mar se levantou, lançando os barcos pelos ares.
Um pescador moken habilidoso na pesca com arpão, Kalathaly, leu os sinais na natureza e saiu advertindo a todos que encontrava. Mas os jovens o chamaram de mentiroso e disseram que estava bêbado. Ele agarrou a filha pela mão e subiu no lugar mais alto que encontrou.
Ouça a Palavra do Senhor: “Quando disserem: ‘Paz e segurança’, a destruição virá sobre eles de repente” (1Ts 5:3).

4 de outubro Quinta

Ligação Local


Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vocês. 1 Pedro 5:7

Um texto que circula na internet narra a história de um homem que viajou pelo mundo na tentativa de encontrar um modo de falar com Deus. Certo dia, ele chegou numa grande igreja e viu um telefone junto à parede com a inscrição: “Linha Direta para Deus.”
– Posso telefonar? – ele perguntou.
– Isso lhe custará quatro mil dólares.
Ele não tinha a menor condição de pagar o preço da ligação. Decidiu visitar outras igrejas, outros países. Encontrou outras igrejas grandes com linhas diretas para falar com Deus. Todas cobravam quatro mil dólares pela ligação.
Por fim, ele chegou à Austrália e viu uma igreja com um telefone de linha direta junto à parede.
– Quanto custa a ligação aqui? – ele perguntou.
– Quarenta centavos.
– Quarenta centavos? Em todo lugar se cobra quatro mil dólares!
– Sim. Mas daqui é ligação local.
Como você pode imaginar, essa história veio da Austrália. É uma boa história, mas é preciso corrigi-la. A ligação para o Céu tem o custo local em qualquer lugar do mundo.
Por meio de Seu sacrifício, Jesus ligou o Céu e a Terra com uma fabulosa rede de comunicação. Essa rede nunca fica sobrecarregada. Ela é totalmente livre de interferência. Você nunca fica na espera. A linha nunca está ocupada. Sua ligação sempre é atendida. E é pessoal.
Que rede de comunicação!
“A oração”, observa Ellen White, “é o abrir do coração a Deus como a um amigo” (Caminho a Cristo, p. 93). Em seguida ela descreve quão convidativa a ligação pode ser. Podemos apresentar ao Senhor todas as nossas preocupações, todas as nossas angústias, todas as nossas ansiedades. Nada é pequeno demais nem grande demais para Deus solucionar. Podemos falar com Ele como se Ele estivesse sentado ao nosso lado, contar-Lhe tudo o que está em nosso coração.
Sim, ter acesso ao Céu é como fazer uma ligação local, a qualquer hora, em qualquer lugar. Pegue o “telefone” agora mesmo e converse com o Amigo que Se preocupa tanto com você. Não haverá custo algum!
5 de outubro Sexta

Aceite o que Deus Fez por Você


Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao Seu serviço e agradável a Ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus. Romanos 12:1, NTLH

É muito fácil ficar com a atenção fixa nas árvores e nunca ver a floresta. Os detalhes da vida podem se tornar um fim em si mesmos. Com isso, nosso cristianismo se deteriora em observâncias presas a regras que carecem de liberdade, espontaneidade e alegria.
Lembro-me de uma rápida conversa que tive com uma senhora de 94 anos de idade após o culto. Depois de parabenizá-la por sua aparência bem conservada, levei um sermão a respeito dos malefícios do sorvete. “Faz 63 anos que não chego nem perto dessa sobremesa!”, ela exclamou com ar de vitória.
Posso pensar em várias coisas mais prejudiciais do que o sorvete. Imagino o que o Senhor pensa da religião que se concentra numa lista do que fazer ou não fazer.
Precisamos, porém, considerar o outro lado da história. Embora não devamos nos prender aos detalhes, a vida consiste de detalhes, não apenas da visão geral. É isso que Paulo enfatiza na passagem de hoje – nossa vida cotidiana e comum de dormir, comer, ir ao trabalho e passear. Essa é a nossa vida fora da igreja, fora da fachada religiosa que podemos assumir para impressionar os santos.
Uma definição de religião afirma que ela é o que fazemos quando nos encontramos sozinhos. Isso é verdade – mas apenas parte dela. A religião, pelos menos segundo o modelo de Paulo, é também aquilo que fazemos quando estamos em meio aos outros. O cristianismo envolve a vida toda, todo o nosso ser e tudo o que fazemos para a glória do Senhor da graça.
Nossa maneira de viver ao nos apresentarmos como sacrifício vivo a Deus não é questão de seguir uma lista do que se pode ou não fazer, mas aceitar o que Deus fez por nós. De um ponto de vista, somos os que atuam; mas o verdadeiro agente é Deus. Ele efetua em nós tanto o querer quanto o realizar segundo Sua boa vontade (Fp 2:13).
Hoje, lembremo-nos do que Deus fez por nós. Isso significa que nossos olhos não estarão focalizados em nós mesmos, mas nEle; que aceitaremos com alegria a direção de Seu Espírito; notaremos com júbilo as evidências de Sua providência e prontamente nos submeteremos à Sua soberania.
Senhor Jesus, vive em Mim hoje!

6 de outubro Sábado

O Chamado à Santidade


Disse ainda o Senhor a Moisés: “Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: Sejam santos porque Eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo.” Levítico 19:1, 2

No século passado, o teólogo alemão Rudolf Otto, ao refletir sobre as várias manifestações da experiência religiosa, escreveu um pequeno livro que se tornou um clássico – em alemão, Das Heilige; traduzido para o português, O Sagrado.
Otto argumentou (corretamente, penso eu) que a ideia mais básica de religião é o senso do sagrado. Ele cunhou uma expressão em que o som de cada palavra que a compõe evoca o impacto do Sagrado sobre nós: mysterium tremendum et fascinans. Misterioso. Tremendo (poderoso). Mas, ao mesmo tempo, fascinante, que nos atrai.
Em todo lugar e em todas as eras, homens e mulheres elevaram o coração em adoração a um ser superior. Geralmente essa adoração é ignorante e, do ponto de vista do cristianismo, infantil e imperfeita. No entanto, Jesus, a Luz do mundo, brilha no coração dos adoradores e eles O buscam, mesmo de forma imperfeita.
Ao longo da Bíblia, Deus declara Sua santidade e chama Seus seguidores a ser santos. Em Levítico, Ele nos diz três vezes que devemos ser santos porque Ele é santo (Lv 11:44, 45; 19:2; 20:7). O Novo Testamento apresenta o mesmo desafio (1Pe 1:16).
Jamais devemos perder o senso da santidade de Deus. É verdade. Deus quer ser nosso amigo, mas Ele nunca pode ser um amigo a quem nos dirigimos como alguém igual a nós. Esse é um erro que às vezes cometem alguns cristãos que gostam de falar muito sobre a graça. Uma das demonstrações mais tristes que testemunhei foi a de um pregador que, apanhado na loucura moderna pelo divertimento, transformou o momento solene no púlpito em um show de comédia. Um ministro que não sabe fazer distinção entre o sagrado e o profano… Que tragédia!
Aquele que é santo nos chama à santidade: “Sejam santos”, Ele diz. Trata-se de um convite e também de um incentivo. O livro de Hebreus nos diz: “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).
Deus está moldando Seu povo, o povo que Ele salvou pela graça, segundo a Sua imagem. Dia após dia e momento após momento, Ele nos molda segundo a Sua semelhança divina, na pureza de coração e de vida que é a Sua própria essência.
Que Aquele que é santo alcance Seu objetivo em nós hoje.

7 de outubro Domingo

O Altar de Pedra de Levítico


De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão. Hebreus 9:22

Entusiasmados com o bom propósito de início de ano de fazer o ano bíblico, muitos cristãos veem seus planos despedaçados e queimados sobre o altar de pedra de Levítico. Os detalhes aparentemente infindáveis sobre as ofertas e os sacrifícios, o puro e o impuro e os rituais de purificação cansam o leitor, levando-o ao desânimo. Qual é a razão de todas essas regras sobre sacrifícios? Qual é o motivo de tanto sangue derramado?
Eugene H. Peterson sugere uma resposta: “A primeira coisa que nos impressiona ao lermos Levítico […] é que o santo Deus está de fato presente conosco e praticamente cada detalhe de nossa vida é afetado pela presença desse santo Deus; nada em nós, em nossos relacionamentos ou ambiente é deixado de fora. A segunda coisa é que Deus oferece um modo (os sacrifícios, as festas e os sábados) pelo qual levamos tudo em nós e a nosso respeito à Sua santa presença, representada pela chama ardente sagrada. É maravilhoso estar em Sua presença! Nós, assim como o antigo Israel, estamos em Sua presença a cada momento (Salmo 139).”
Tanto derramamento de sangue parece repulsivo. No entanto, através desses rituais, que, não nos esqueçamos, foram instituídos por Deus, o Senhor ensinou lições vitais para Seu povo.
Primeira lição: o pecado custa caro. A questão do pecado não é simples, algo que Deus resolve fazendo um sinal com a mão. Somente aqueles cuja sensibilidade moral está entorpecida consideram o pecado algo sem importância. Essa ainda é uma lição para as pessoas da era moderna, para nós. O pecado custa caro. Muitas pessoas hoje, especialmente na mídia, tentam atrair a atenção chocando o público. Elas fazem pouco de Deus, do pecado, do sexo; ridicularizam os tabus. Mas o pecado ainda tem um preço.
Segunda lição: a purificação do pecado requer derramamento de sangue. Não, o sangue de bois e bodes, bezerros e cordeiros não podem purificar a humanidade; o pecado envolve uma qualidade moral que não pode ser removida por meios mecânicos. Todos os sacrifícios de Levítico apontavam para o grande Sacrifício, para Ele, o Sumo Sacerdote e ao mesmo tempo a oferta, que um dia carregaria nossos pecados com Ele para a cruz.
Assim, Levítico ensinou aos israelitas a salvação pela fé. Deus prescreveu o que o pecador deveria fazer a fim de ser perdoado. A pessoa que aceitava o caminho de Deus obedecia. Sim, o altar de pedra de Levítico é a graça.

8 de outubro Segunda

Jubileu


Consagrem o quinquagésimo ano e proclamem libertação por toda a terra a todos os seus moradores. Este lhes será um ano de jubileu, quando cada um de vocês voltará para a propriedade da sua família e para o seu próprio clã. Levítico 25:10

Terras são bens valiosos. Na sociedade agrícola, a terra proporciona a base para o sustento. Para as pessoas dessa sociedade, perder a terra significa tornar-se nada, ter como única opção a escravidão.
Deus estabeleceu uma provisão cheia de graça para Seu povo, os filhos de Israel, quando fossem para Canaã após passarem séculos no Egito. Eles seriam fazendeiros, ligados à terra; mas não deveriam perdê-la permanentemente pela compra e venda. Inevitavelmente, alguns perderam as terras que receberam. Por motivo de enfermidade, tragédia, morte ou má administração alguns foram obrigados a vender tudo o que possuíam, incluindo a terra. Mas a venda da terra não seria definitiva.
No quinquagésimo ano, todas as dívidas eram canceladas. No quinquagésimo ano, a terra que havia sido vendida voltava aos proprietários originais. No quinquagésimo ano, reinava a liberdade. Era o ano de voltar para a propriedade dos antepassados; para reunir a família.
Isso quer dizer que todas as negociações que envolviam a aquisição de terras possuíam um fator temporário. O mercado imobiliário de Israel era governado por um ciclo de cinquenta anos. Se o jubileu estivesse longe, a terra tinha um valor mais alto; se o ciclo estivesse quase chegando ao fim, o preço caía.
Imagine o significado do jubileu para os membros de uma família que estavam vivendo na pobreza, destituídos de sua terra, trabalhando como escravos. Havia esperança. Os anos de trabalho escravo certamente teriam fim. Chegaria o jubileu e, ao décimo dia do sétimo mês (o Dia da Expiação), soaria o toque da trombeta, proclamando a liberdade.
Os princípios do jubileu – quitar, libertar, retornar, reunir – são a essência do evangelho. O jubileu está repleto de graça. Era uma ideia maravilhosa, uma ideia divina. Infelizmente, não há indicação de que os judeus o tenham colocado em prática. Podemos imaginar a relutância dos abastados proprietários de terras em simplesmente devolver as propriedades aos donos originais sem receber nenhum centavo em troca. Podemos imaginar os poderosos se unindo para privar o pobre. Isso aconteceu no passado e ainda acontece hoje. Mas, na graciosa provisão de Deus, Alguém viria ao mundo para proclamar liberdade, quitação, restituição, reencontro. Esse Alguém foi Jesus, o jubileu encarnado.

9 de outubroTerça

Rei Sem Coroa


Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Vimos a Sua estrela no oriente e viemos adorá-Lo.” Mateus 2:1, 2

Ele está sentado na encosta da montanha, uma pequena elevação coberta de grama é o trono desse Rei sem coroa. Multidões se aglomeram ao Seu redor – gente simples, pessoas pobres, pescadores e camponeses. Ele começa a falar – palavras inesperadas, surpreendentes, palavras que apresentam os princípios do reino que Ele veio estabelecer.
As aparências não revelam, mas Ele é rei de fato! Mateus, que descreve a cena e nos transmite Suas palavras, deixa isso muito claro. A primeira linha de seu Evangelho nos diz: “Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi” (Mt 1:1), mostrando que Jesus é descendente do monarca mais famoso de Israel, Davi. Apenas o Evangelho de Mateus registra que na ocasião do nascimento de Jesus os reis magos vieram do oriente com a pergunta: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?” (Mt 2:2). Obviamente, essa pergunta atraiu a atenção de outro rei, Herodes o grande.
O Rei dos judeus não nasceu num palácio, mas numa estrebaria. Ele não foi colocado num berço real, mas numa manjedoura. Ele não foi observado pelos nobres da corte, mas pelos animais. Ironia suprema: nunca um rei entrou neste mundo de forma tão contrária às expectativas.
Ele foi um Rei sem coroa. A única coroa colocada sobre Sua cabeça foi a de espinhos feita pelos soldados romanos tomados de ódio e espírito de deboche. Mesmo assim, Ele usou uma coroa, não feita de ouro e joias preciosas, mas de valor infinitamente maior. Ele foi coroado com o amor, com a graça.
Os que buscavam um rei que usasse uma coroa convencional olharam para o Filho de Davi e enxergaram apenas um humilde camponês. Recusaram-se a levar a sério Suas palavras, Suas maravilhosas palavras de vida; recusaram-se a deixar o coração ser tocado por Sua compaixão e milagres. De forma alguma poderia Ele ser Rei – Ele não se encaixava no padrão.
Aqueles, porém, cujos olhos enxergavam, viram em Jesus alguém inteiramente amável, alguém totalmente cativante. Eles não O chamaram imediatamente de Rei (parecia algo muito distante), mas sabiam que nEle haviam encontrado alguém que desejavam ter por perto, alguém que queriam conhecer.
Jesus, reina em minha vida hoje!

10 de outubro Quarta

Cristo, Tudo e em Tudo


Ele revelou todas as coisas diante de nós em Cristo, um plano de longo alcance em que tudo seria somado e resumido nEle, tudo nas profundezas do céu, tudo no planeta Terra. Efésios 1:10, The Message

Da folha em branco no início da Bíblia de uma mulher piedosa vem a seguinte demonstração do profundo amor por Jesus, a quem ela chamou “Cristo, Tudo e em Tudo”.

Ele é minha ressurreição e vida (João 11:25).
Ele é a verdade que me purifica (João 14:6).
Ele é o caminho no qual prossigo em segurança (João 14:6).
Ele é o Senhor que governa meu ser (João 20:28).
Ele é o mestre que me instrui (Apocalipse 3:2).
Ele é a raiz na qual eu cresço (Apocalipse 22:16).
Ele é o pastor que me guia (1 Pedro 5:4).
Ele é a água viva que sacia a minha sede (João 7:37).
Ele é o pão celestial que satisfaz a minha alma (João 6:48).
Ele possui o manto da justiça para me cobrir (Isaías 61:10).
Ele possui o “alimento” que me fortalece (João 4:32).
Ele possui o remédio que me restaura (Jeremias 30:17).
Ele é a luz que me guia (João 1:9).
Ele possui o ouro que me enriquece (Apocalipse 3:18).
Ele possui o vinho que me alegra (Salmo 104:15).
Ele possui a justiça que me justifica (Romanos 5:17).
Ele possui a misericórida que me salva e a graça que me sustém (Hebreus 4:16).
Ele é a felicidade que coroa meu ser (Salmo 146:5).
Ele é a canção na qual me regozijo (Salmo 40:3).
Ele é o conforto na aflição (Salmo 34:19).
Ele é meu refúgio seguro do inimigo (Hebreus 6:18).
Ele é o profeta que aponta para o futuro (Atos 3:22).
Ele é a soma de todas as coisas (Efésios 1:10).
11 de outubro Quinta

Homem Sem Smoking


Quando o rei entrou para ver os convidados, notou ali um homem que não estava usando veste nupcial. E lhe perguntou: “Amigo, como você entrou aqui sem veste nupcial?” O homem emudeceu. Mateus 22:11, 12

Você já notou que as cerimônias de casamento, por mais que tenham sido meticulosamente planejadas e ensaiadas, geralmente são vítimas de alguma falha de última hora? Estávamos numa roda de amigos contando histórias de casamento (momentos muito divertidos) quando alguém contou o seguinte incidente de que foi testemunha. Podemos dizer que essa história ganhou o prêmio de melhor do dia:
Tudo estava pronto para o GRANDE EVENTO – os vestidos das damas de honra, os planos de viagem para a lua de mel, a recepção e assim por diante. Os padrinhos tinham tirado a medida para a confecção do smoking, que já havia sido entregue e levado para a igreja. Nada foi deixado para a última hora.
A lei de Murphy, porém, entrou em cena. Assim que os padrinhos chegaram para vestir o smoking, descobriram que faltava um. Na hora de pegar os trajes, de alguma forma um foi deixado na loja. Era domingo e a loja estava fechada.
O que fazer? Alguém olhou à sua volta, reparando especialmente nas medidas dos padrinhos, e teve uma ideia. A cerimônia começou no horário marcado, com dois padrinhos conduzindo os pais e avós dos noivos aos devidos lugares. Após uma pequena pausa, começou a entrada dos padrinhos e madrinhas e a cerimônia prosseguiu. Ao término, novamente houve uma pequena pausa, e então os dois primeiros padrinhos reapareceram para coordenar a saída dos convidados.
Minha amiga disse que ao longo de todo o evento havia um homem – nem sempre o mesmo – no quartinho do fundo da igreja vestindo apenas a roupa íntima!
A parábola de Jesus do banquete de casamento também possui um elemento surpresa. Na verdade, há uma série de surpresas. O rei promove um grande evento, mas os convidados rejeitam o convite. Ofendido, o rei ordena que os servos saiam de cidade em cidade convidando todos, bons e maus. O rei entra na festa e observa a cena. Um homem se destaca: ele não está vestindo o traje que o rei providenciou e é expulso do banquete.
Todos nós somos convidados para a grande cerimônia de casamento. Na verdade, não merecemos, mas somos convidados. Não sabemos o que vestir, mas o Rei providencia o traje apropriado, na medida perfeita!

12 de outubro Sexta

Justiça Superior


Pois Eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos Céus. Mateus 5:20

Sempre que um novo presidente do país é eleito, imediatamente ele começa o processo de selecionar aqueles que o ajudarão a formar o governo. O secretário do tesouro, o secretário de estado, o diretor do departamento de segurança nacional e assim por diante. Há muitos cargos a ser ocupados, e com urgência.
Assim, quando o Rei do Céu veio à Terra e começou Seu reinado, o que Ele fez? Ele Se sentou na encosta de uma montanha de frente para o Mar da Galileia e começou a falar aos Seus súditos. Em vez de anunciar os membros de gabinete (“Para relações exteriores, selecionei Pedro; para secretário do tesouro, Mateus”), Ele começou a descrever como será o Seu reino. Ele não enfatizou o que as pessoas sob o Seu reinado fazem, mas aquilo que são.
“Bem-aventurados os pobres em espírito…”
“Bem-aventurados os que choram…”
“Bem-aventurados os humildes…”
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça…”
“Bem-aventurados os misericordiosos…”
“Bem-aventurados os puros de coração…”
“Bem-aventurados os pacificadores…”
“Bem-aventurados os perseguidos…”
E Ele prosseguiu dizendo: “Pois Eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos Céus” (Mt 5:20). Se as ideias anteriores supreenderam os ouvintes, essas devem tê-los chocado.
Mais justos do que os fariseus – quem seria capaz de uma coisa dessas? Os fariseus ordenavam a vida meticulosamente em estrita obediência às regras escritas e não escritas de sua religião, e Jesus está nos dizendo que temos que fazer ainda mais? Impossível!
O Sermão do Monte não é uma fórmula para governar uma cidade ou um estado. Não se trata dos reinos deste mundo, mas do reino de Deus, como as primeiras palavras de Jesus deixam claro: “Deles é o Reino dos Céus.” Esse é um reino real, agora mesmo. Jesus reina aqui, em corações e vidas. Ele inverte a ordem das coisas, pois a graça, não o poder, é a base do Seu reino.

13 de outubro Sábado

“Você Está Livre!”


Este é o ano de Deus agir. Lucas 4:19, The Message

Segundo o plano divinamente inspirado, mas distinto, cada um dos escritores dos Evangelhos se concentra num incidente diferente no início do ministério de Jesus. Tal incidente estabelece o tom da ênfase que o evangelista desenvolverá em seu relato.
Assim, Mateus começa o relato do ministério de Cristo com o Sermão do Monte, lembrando-nos de Moisés no Monte Sinai. Nesse Evangelho, desenvolvido a partir de cinco discursos de Jesus que também ecoam os cinco livros do Pentateuco, Cristo emerge como o grande mestre, o rei que supera Moisés ao afirmar: “Vocês ouviram o que foi dito […]. Mas Eu lhes digo […]” (Mt 5:21-44).
Marcos, por outro lado, inicia seu relato do ministério de Cristo com a cura do homem possesso de espírito imundo na sinagoga durante a reunião de sábado (Mc 1:21-28). As ações de Jesus são poderosas e comoventes, deixando os espectadores maravilhados. Tal descrição de Jesus reaparece ao longo do Evangelho de Marcos. Jesus aqui é acima de tudo o Homem de ação decisiva que evoca surpresa e admiração em todos os aspectos.
O início do Evangelho de João apresenta ainda uma ênfase diferente. Encontramos Jesus conversando não com uma multidão, como em Mateus, mas pessoalmente, um a um, com Seus primeiros discípulos, e especialmente com Natanael (Jo 1:35-51). Esse padrão persiste ao longo de toda a apresentação de João ao construir seu Evangelho com base nos encontros de Jesus com uma série de indivíduos totalmente diferentes entre si: Sua mãe, o fariseu Nicodemos, a mulher junto ao poço, os nobres, o homem junto ao tanque de Betesda e assim por diante.
E quanto a Lucas? Assim como Marcos, Lucas seleciona um incidente que ocorreu na sinagoga na manhã de sábado, mas em Nazaré em vez de Cafarnaum. Em vez de um milagre, Jesus lê as Escrituras e faz comentários que enfurecem o povo em vez de maravilhá-lo (Lc 4:16-30).
A passagem escolhida por Jesus é Isaías 61:1, 2, em que o profeta predisse Aquele que, ungido pelo Espírito de Deus, proclamaria as boas-novas aos pobres, liberdade aos prisioneiros e restauraria a vista aos cegos. Ele, o Messias, anunciaria: “Este é o ano de Deus agir.”
O povo de Nazaré não valorizou Jesus. Eles O conheciam, não achavam que Ele fosse o Messias! Mas Ele era. E Sua mensagem ainda ecoa pelo mundo: “Este é o ano de Deus agir. Você está livre!” Hoje, diga a alguém: “Você está livre!”

14 de outubro Domingo

O Reino dos Mansos


O lobo e o cordeiro comerão juntos, e o leão comerá feno, como o boi, mas o pó será a comida da serpente. Ninguém fará nem mal nem destruição em todo o Meu santo monte, diz o Senhor. Isaías 65:25

Em uma visita à minha cidade natal de Adelaide, na Austrália, tive um vislumbre da sociedade ideal de Deus, o reino dos mansos. Adelaide se localiza numa planície em meio a uma cadeia de montanhas de baixa altitude ao leste do litoral. Quando menino, eu costumava passear por aquelas montanhas com meus irmãos. Avistávamos lebres, raposas e, de vez em quando, um canguru. Não fazia a menor ideia de como era a vida que no passado existiu naquela área.
Certo professor de matemática empenhou-se em restaurar parte das montanhas ao que era originalmente, cerca de 200 anos antes. (Os primeiros colonizadores chegaram em 1836.) Ele comprou uma fazenda e começou a reflorestá-la com árvores e plantas nativas. Ao redor de toda a área ele construiu uma cerca fortificada para manter afastados os predadores: raposas, gatos selvagens e cães. Em seguida, introduziu espécies que um dia haviam habitado aquele ambiente, mas que quase foram extintas. Ele não fornecia comida aos animais, apenas um lugar seguro para que morassem e se reproduzissem.
O passeio com um guia pelo santuário começa logo ao entardecer, pois a maioria dos animais que ali habita tem hábitos noturnos. À medida que a noite chega, as luzes das lanternas sinalizam o caminho. Logo o lugar se enche de uma grande variedade de criaturas, grandes e pequenas, como jamais imaginei. Flagrados pela luz das lanternas, assustados com o movimento repentino, encontramos um bando de criaturas saltitantes, alguns tão pequenos quanto ratos, outros um pouco maiores. Trata-se de uma espécie de canguru de tamanho pequeno, os wallabies. Eles parecem surreais, algo que saiu de um dos filmes de Steven Spielberg; criaturas de brinquedo em que damos corda e saem pulando por aí.
Nesse lugar conheci uma imensidão de novos nomes de animais semelhantes a cangurus, criaturas indefesas, presas fáceis de raposas, cães e gatos introduzidos no continente pelos colonizadores.
O reino deste mundo é violento. A violência nos rodeia; filmes e programas de televisão alimentam o apetite cada vez mais insatisfeito. Devido à natureza da sociedade, muitos argumentam que a violência organizada, como a guerra, e a violência legalizada, como a execução, são inevitáveis e necessárias.
Talvez sim. Mas o reino do Céu, onde o manso Jesus reina (mesmo hoje), é totalmente diferente. A graça e a violência não têm nada em comum.

15 de outubro Segunda

Bem-aventurado!


Vocês são abençoados ao chegarem ao fundo do poço. Quanto menos de vocês mesmos, mas de Deus e de Seu domínio. Mateus 5:3, The Message

O texto de hoje ilustra de maneira clara as aparentes contradições da vida do cristão, da vida da graça. De acordo com o pensamento comum, o fundo do poço é o último lugar em que desejaríamos estar. É sinônimo de angústia, perplexidade e medo. O reino do Céu, porém, onde Jesus reina em amor, inverte a ordem das coisas, contraria as expectativas, surpreende, choca. A graça causa espanto.
A felicidade é algo muito procurado pelo povo do reino deste mundo, um objetivo ilusório. No entanto, no momento em que Jesus, sentado na encosta da montanha próximo ao Mar da Galileia, apresentou os princípios de Seu reino, Ele não falou sobre felicidade. Ele ofereceu algo muito maior – a bem-aventurança.
Na língua inglesa, a palavra felicidade deriva do verbo to hap, que significa acontecer por acaso. Sob os raios brilhantes do Sol no céu azul e em meio ao canto melodioso das aves, nossa mente se eleva às alturas. Mas assim que as nuvens escuras chegam, o vento gelado sopra e começamos a sentir frio, nossos sentimentos sofrem uma queda brusca. A felicidade vem e vai. A felicidade é passageira.
Jesus repetiu nove vezes a expressão “Bem-aventurados” durante o Sermão do Monte. A palavra que Ele utilizou, makarios, tem uma história antiga. Muito tempo antes de o Novo Testamento ter sido escrito, ainda na época de Homero, essa palavra designava a vida dos deuses, que viviam em comodidade e praticando esportes no topo do Monte Olimpo. Mais tarde, o significado dessa palavra foi ampliado para incluir a suposta felicidade dos mortos, aqueles que deixaram os cuidados desta vida. Em seguida, makarios ampliou-se ainda mais. Ela passou a descrever os afortunados entre os vivos, aqueles que, sendo ricos, não mais precisam trabalhar com as mãos e que têm recursos para protegê-los se atingidos por enfermidades ou perdas.
Mas Jesus diz aos camponeses, pescadores, artesãos, às donas de casa e crianças: “Bem-aventurados.” Vocês não serão abençoados apenas na vida futura – vocês são abençoados agora mesmo. Jesus não nos promete um mar de rosas; Ele oferece algo muito melhor. Jesus não nos apresenta o objetivo ilusório da felicidade; Ele tem algo muito superior para nos oferecer. Jesus nos oferece a Si mesmo. Ele nos convida a ir a Ele e tomar Seu fardo, que é fácil e leve. Ao aceitarmos Jesus em nossa vida como nosso Salvador e Senhor, Suas palavras se tornam realidade. Não são ilusórias. Somos abençoados com a alegria sublime de Sua graça.

16 de outubro Terça

Os Pobres em Espírito


Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus. Mateus 5:3

O Sermão do Monte fala do começo ao fim sobre a graça, como as palavras de abertura deixam claro. A graça é o princípio operante no reino do Céu. Entretanto, muitos políticos e líderes que enaltecem o Sermão do Monte não têm coragem de colocar em prática os princípios estabelecidos por ele. Qualquer presidente que aconselhar a nação a dar a outra face para o inimigo que está às portas, com essa atitude certamente decretará o próprio impeachment. Da mesma forma, qualquer candidato político que renunciar ao orgulho e ao poder deverá dar-se por satisfeito se ao menos os membros de sua família votarem nele.
Mas no reino do Céu impera a graça, não o poder. Os cidadãos desse reino são felizes por serem “pobres em espírito” – pobres no espírito egoísta e orgulhoso que caracteriza a vida neste mundo. Mas não pobres em Deus; nEle eles são ricos. Eles são pobres em si mesmos, mas ricos em Cristo, em quem todos os tesouros da Terra e do Céu atingem o auge.
Sempre foi assim. Aqueles que pensam que têm tudo – que não sentem falta de nada – não “entendem” a graça. Ela começa na experiência humana com a profunda percepção de nossa fome, sede, insuficiência, perdição, necessidade de ajuda além de nós mesmos. Somente quando a pessoa perceber que nunca poderá vencer sozinha estará pronta para receber a graça. Nesse momento, a graça fluirá para ela. Perdoadora graça. Transformadora graça. Poderosa graça. Maravilhosa graça. Dessas pessoas é o reino do Céu hoje. Na vida delas Jesus reina soberano.
Durante o ministério de Jesus na Terra, o povo comum O ouvia com prazer (Mc 12:37). Prostitutas e cobradores de impostos entravam para o reino antes dos sacerdotes e fariseus (Mt 21:31). Assim tem ocorrido ao longo dos séculos. À medida que o cristianismo é proclamado, ele é recebido com alegria pelos escravos, rejeitados, marginalizados – os pobres em espírito.
Celso, famoso crítico do cristianismo, zombou de Jesus e de Seus seguidores. “Que professor singular os cristãos têm”, ridicularizou. “Todos os outros líderes religiosos dizem: ‘Venham a mim, vocês que são dignos’, mas esse Homem diz: ‘Venham a Mim, vocês que estão cansados e sobrecarregados pela vida.’ Assim, atraídos por essas palavras, Ele é seguido pela ralé, a gentalha, a escória da humanidade, que vai rastejando atrás dEle.”
E Orígenes, teólogo cristão, respondeu: “Sim; mas Ele não os deixa como ralé, gentalha e escória da humanidade. Desse material considerado sem valor, Ele molda homens!”

17 de outubro Quarta

Graça Para os que Choram


Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. Mateus 5:4

Esse simples verso, o segundo das bem-aventuranças, fala poderosamente tanto aos cristãos quanto aos não cristãos. Nele sentimos conforto para os aflitos, mas também repreensão para muito do que se considera entretenimento hoje, e a promessa de uma nova ordem mundial que reverterá as prioridades existentes hoje.
Deus Se preocupa com aqueles cujo coração está entristecido. Essa é a interpretação mais básica do texto. O próprio Jesus Se tornou “homem de dores e experimentado no sofrimento” (Is 53:3). Ele que chorou com Maria e Marta junto ao sepulcro de Lázaro, chora conosco em nosso pesar. Ele é nosso grande sumo sacerdote que conhece e compreende como nos sentimos (Hb 4:14-16).
Se permitirmos, Ele transformará em bênção nosso pranto. O sofrimento nunca deixa a pessoa da mesma forma que a encontrou; ou ele nos aproxima do Senhor ou nos afasta dEle. Alguns dos homens e mulheres mais consagrados das eras passadas (e ainda hoje) foram aqueles que, ao ter submetido tudo a Cristo, experimentaram o poder da segunda bem-aventurança. Na categoria dos não cristãos estão aqueles que apontam para os sofrimentos e a morte dos amados como a razão para rejeitarem a fé.
Eugene H. Peterson assim interpretou as palavras de Jesus: “Vocês são abençoados quando sentem que perderam o que lhes era mais precioso. Somente então vocês podem ser abraçados por Aquele que é mais precioso para vocês” (Mt 5:4, The Message). Que verdade! Por mais amado e precioso que alguém seja para nós, Jesus é ainda mais.
O comentário de Ellen White também é valioso: “As provações da vida são obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas e arestas. Penoso é o processo de cortar, desbastar, aparelhar, lustrar, polir. […] Mas a pedra é depois apresentada pronta para ocupar seu lugar no templo celestial. O Mestre não efetua trabalho assim cuidadoso e completo com material imprestável. Só as Suas pedras preciosas são polidas, como colunas de um palácio” (O Maior Discurso de Cristo, p. 10).
As palavras de Jesus também são uma repreensão para aquilo que atualmente chamamos de comédia. A irreverência, vulgarização e crueldade tiram proveito do choque causado aos valores. Vale tudo para se conseguir uma risada. “Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza”, aconselha a Bíblia àqueles que são atraídos por esse tipo de “diversão” (Tg 4:9). Pois se aproxima o dia em que tudo será invertido: o dia em que aqueles que hoje choram rirão e aqueles que hoje riem chorarão (Lc 6:21, 25).

18 de outubro Quinta

O que Não Pode Ser Comprado


Vocês são abençoados quando ficam contentes com quem vocês são – nada mais, nada menos. Nesse momento vocês se tornam donos de tudo que não pode ser comprado. Mateus 5:5, The Message

A tradução habitual da frase “bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (ARA) já gerou pilhérias. No mundo que conhecemos, os mansos não herdam nada; eles são pisados e humilhados. As pessoas valorizam a assertividade e a agressividade. A mansidão é desprezada, considerada uma característica dos fracos. Mas, do ponto de vista bíblico, do ponto de vista da graça, mansidão não é sinônimo de fraqueza. O personagem que mais se destaca no Antigo Testamento é Moisés, considerado o homem mais manso da Terra (Nm 12:3). O Novo Testamento se centraliza na pessoa e no ministério de Jesus Cristo, que não Se apegou ao status divino, mas condescendeu em Se tornar um ser humano, “foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2:8).
O pensamento de que a mansidão significa ser “capacho” é totalmente inadequado. Em vez de ser um ninguém, a mulher ou o homem manso é uma pessoa forte que realiza muitas coisas, assim como Moisés, que liderou o povo para a liberdade, ou Jesus, que salvou a raça humana. Quanto mais a pessoa se esvaziar do ego, do orgulho, da ambição e do desejo pela fama e glória pessoal, mais Deus poderá usá-la para realizar grandes coisas. Ou seja, quanto mais mansa, maior a pessoa será.
“A natureza humana está sempre lutando por se manifestar, pronta para a luta; mas aquele que aprende de Cristo, esvazia-se do próprio eu, do orgulho, do amor da supremacia, e há silêncio na alma. O próprio eu é colocado ao dispor do Espírito Santo. Não andamos então ansiosos de ocupar o primeiro lugar. Não ambicionamos comprimir e acotovelar para nos pôr em destaque; mas sentimos que nosso mais alto lugar é aos pés de nosso Salvador. Olhamos para Jesus, esperando que Sua mão nos conduza, escutando Sua voz, em busca de guia” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 15).
Isso significa ter um senso realista de nossas forças e fraquezas, estar contente com quem somos. Nosso valor próprio não depende mais daquilo que fazemos, mas de quem somos, pois somos filhos e filhas de Deus. Somos de infinito valor para Ele.
Por fim, os mansos realmente herdam a Terra. Não apenas a Terra perfeita para a qual nos preparamos, mas hoje mesmo herdamos as riquezas do reino da graça – “tudo que não pode ser comprado”.

19 de outubro Sexta

A Comunidade dos Famintos


Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos. Mateus 5:6

Meu pai, nascido perto de Estocolmo, Suécia, passou no mar boa parte de sua juventude. Ele navegou pelo mundo, primeiro em veleiros, depois em navios a vapor. Navegou duas vezes ao longo do Cabo Horn. Costumava contar histórias empolgantes e surpreendentes sobre os anos que passou como simples marinheiro. Em uma viagem terrível, o corrupto comissário de bordo, em parceria com o capitão, não embarcou suprimentos suficientes e os dois embolsaram o dinheiro não gasto.
O navio zarpou do porto de Hamburgo, Alemanha, navegou para o oeste do Mediterrâneo, pelo Estreito de Gibraltar, rumo ao Atlântico. Ao seguirem em direção ao sul, se depararam com uma região de calmarias onde as embarcações ficavam paradas aguardando o vento soprar. Os dias se transformaram em semanas e as semanas em meses para os desesperados tripulantes presos no navio, famintos dia e noite. Certo dia, os restos de comida e as batatas estragadas foram levados ao convés e a tripulação voou para cima do alimento sem pensar duas vezes.
A fome e a sede cada vez mais se tornavam o foco principal de sua vida. A existência mais básica se caracteriza por encontrar algo para alimentar o estômago faminto e água para saciar a sede.
Pessoas famintas sonham com comida. A Bíblia menciona esse fato: “Um homem faminto sonha que está comendo, mas acorda e sua fome continua” (Is 29:8). Em minha vida afortunada, raramente fui para a cama com fome; mas nas ocasiões em que isso aconteceu, sonhei com comida e acordei pensando nela.
Fico pensando: Quão famintos estamos por Deus? Se estivermos famintos por Ele, sonharemos com Ele e acordaremos pensando nEle?
Note que a quarta bem-aventurança, assim como todas as outras, é proferida no plural. Jesus fala com Seus seguidores como comunidade, não como indivíduos. Seu povo, os cidadãos do reino do Céu, é a comunidade dos famintos – famintos por Deus.
A maioria das pessoas na encosta da montanha naquele dia era composta por indivíduos comuns. Eles faziam apenas duas refeições por dia, refeições muito simples por sinal. A referência à comida deve ter feito com que começassem a salivar. Mas Jesus falou de um tipo de alimento mais precioso do que pão e peixe. Ele ofereceu o pão do Céu, o verdadeiro maná, o alimento de Seu reino: Ele mesmo.

20 de outubro Sábado

Os Misericordiosos


Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia. Mateus 5:7

As bem-aventuranças revelam um conceito de desenvolvimento. Nas primeiras quatro – os pobres em espírito, os que choram, os mansos e os que têm fome e sede – a ênfase recai nas atitudes. Embora na visão do mundo as pessoas assim sejam consideradas fracas, perdedoras, desprezíveis e indignas de uma segunda avaliação, Deus as chama de “abençoadas”.
Nas três bem-aventuranças seguintes vemos a ênfase sair da atitude e focalizar a ação, do ser para o fazer. Enquanto as quatro primeiras descrevem o tipo de pessoas que podem receber a bênção do Messias, as três seguintes começam a descrever de que forma tais indivíduos vivem no mundo.
Em primeiro lugar, os cidadãos do reino de Jesus são misericordiosos. Essa palavra poderosa implica atos de bondade e graça, assim como na ação misericordiosa do bom samaritano (Lc 10:25-37). Ser misericordioso significa mais do que ter uma natureza perdoadora; significa ir ao encontro das pessoas necessitadas, machucadas, desesperadas. Significa ir ao encontro delas levando esperança e bondade. Os misericordiosos são misericordiosos porque agem com misericórdia.
Não podemos ser cidadãos do reino de Jesus e viver como eremitas ou monges, fugindo do mundo e de suas necessidades. Certa vez visitei os templos esculpidos em rochas de uma religião antiga. Nesses recessos, homens se refugiavam do mundo para passar seus dias contemplando o enigma da existência humana. Em pequenos ambientes esculpidos em pedra, levavam uma vida de celibato, oração e abnegação. Mas no interior das salas de reunião havia afrescos, trabalhados em cores. Embora a umidade e a fumaça tenham destruído a maior parte das obras de arte, depois de 20 séculos, as cenas libertinas – danças, bebedeira, mulheres com pouca roupa – ainda são evidentes.
“Como é possível”, perguntei ao guia, “esses monges terem decorado as paredes com esse tipo de pintura?” A resposta: “Visto que estavam protegidos da tentação do mundo, eles tinham que ter cenas como essas para desenvolver o caráter!”
Que diferença dos ensinos de Jesus! Nós que O seguimos não contemplamos a misericórdia; nós a praticamos. Não meditamos na pureza do coração; nós a vivemos nas relações do dia a dia. Não falamos sobre a paz; procuramos trazer a paz de Deus aos homens e mulheres com quem convivemos.
“Ante o apelo do tentado, do errante, das míseras vítimas da necessidade e do pecado, o cristão não pergunta: São eles dignos? Mas: Como posso beneficiá-los?” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 22).

21 de outubro Domingo

Os Puros de Coração


Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus. Mateus 5:8

De todas as bem-aventuranças, essa é a minha favorita. Ela conduz à bênção maior: ver a Deus. “Eles verão a Sua face, e o Seu nome estará em suas testas”, promete o livro de Apocalipse em seu último capítulo (Ap 22:4). Assim, a antiga oração de Moisés – “Peço-te que me mostres a Tua glória” (Êx 33:18) – se cumprirá não apenas para uma pessoa, mas para todo o povo de Deus.
Na sexta bem-aventurança, Jesus relaciona essa bênção suprema ao supremo traço de caráter: “Bem-aventurados os puros de coração.” Essas palavras são um convite e um desafio. Elas nos assustam porque repreendem a maneira como as pessoas à nossa volta vivem e a maneira como nós tendemos a viver. Elas são um chamado para vivermos de forma mais sublime, mais centrada em Deus, lembrando-nos de que “a santidade, ou seja, a semelhança com Deus, é o alvo a ser atingido” (Ellen G. White, Educação, p. 18).
Jesus está preocupado com a fonte de nossa vida: nosso coração. O mundo olha para as aparências; Ele olha para o nosso coração. O mundo está repleto de impureza de atos, palavras e imaginação, por isso Ele nos convida para a pureza na fonte.
A pureza de coração vai além da pureza moral, apesar de incluí-la. A pureza de coração denota uma vida que coloca Deus em primeiro lugar; uma vida centrada nEle, devotada à Sua vontade e à Sua glória; um coração pelo qual Charles Wesley orou:

Oh! Por um coração para louvar meu Deus,
Um coração de pecados liberto,
Um coração que bebe sempre de Seu sangue,
Tão abundantemente derramado por mim.
Um submisso, humilde e contrito coração,
Acreditando, de forma verdadeira e clara,
Que nem a vida nem a morte podem me separar,
DAquele que habita dentro de mim.
Um coração renovado em cada pensamento,
E repleto do amor divino,
Perfeito, reto, puro e bom,
Uma cópia, Senhor, do Teu coração.

Deus da graça, concede-me esse coração hoje!

22 de outubro Segunda

Os Pacificadores


Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus. Mateus 5:9

Bem-aventurados os pacificadores, pois os provocadores estão proliferando. Vozes irritadas e ações violentas nos circundam. Algumas das palavras mais ásperas vêm do povo que alega ter uma religião, incluindo os cristãos. Eles condenam aqueles que enxergam certas questões (e Deus) sob uma luz diferente da deles. Exigem a exclusão, a excomunhão, a eliminação.
Bem-aventurados os pacificadores, pois eles derramam óleo nas águas agitadas da igreja. Eles discernem a diferença entre o eterno, o imutável, e o temporário, o mutável. Eles defendem o que é certo, mas estão prontos a ser flexíveis em outras questões. No momento em que os grupos opostos batem os pés e cerram os punhos, eles gentilmente conduzem ao meio-termo. Eles restauram a harmonia.
Bem-aventurados os pacificadores, pois eles seguem os passos de Jesus, o Príncipe da Paz. “Ele é a nossa paz” (Ef 2:14). Ele nos reconciliou com Deus e quebrou o muro de separação da hostilidade, a inimizade que separa brancos de negros, asiáticos de europeus, hutus de tutsis, masculino de feminino. “Deixo-lhes a paz; a Minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (Jo 14:27) foi a promessa que Ele fez aos Seus seguidores ao partir para o Céu.
Bem-aventurados os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus. “Vocês são abençoados quando mostram às pessoas como cooperar em vez de competir e lutar. É nesse momento que vocês descobrem quem vocês realmente são, e seu lugar na família de Deus” (Mt 5:9, The Message). Os pacificadores são filhos de Deus, por isso eles fazem as obras de seu Pai celestial. Eles são como Ele. Promovem a paz, disseminam a paz, vivem a paz.
O que essa bem-aventurança tem que ver com a graça? Muito, em todos os aspectos. A paz é o fruto da graça. “A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” é a costumeira saudação de Paulo em suas cartas (ver, por exemplo, Romanos 1:7). A graça é a raiz, a paz é o fruto.
“A graça de Cristo, recebida no coração, subjuga a inimizade; afasta a contenda e enche o coração de amor. Aquele que se acha em paz com Deus e seus semelhantes, não se pode tornar infeliz. Em seu coração não se achará a inveja; ruins suspeitas aí não encontrarão guarida; o ódio não pode existir. O coração que se encontra em harmonia com Deus partilha da paz do Céu, e difundirá ao redor de si sua bendita influência” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 27, 28).

23 de outubro Terça

Bênção que Não Devemos Buscar


Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos Céus. Mateus 5:10

A oitava e última bem-aventurança ecoa a primeira: “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus” (Mt 5:3). “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos Céus.” As oito bem-aventuranças sintetizam o Sermão do Monte. Elas abrangem desde como os cidadãos do reino do Céu são (as primeiras quatro – pobres em espírito, pranteadores, mansos, famintos) até como eles vivem (as três seguintes – demonstram misericórdia, são totalmente devotados a Deus e promovem a paz). E de que maneira o mundo se relaciona com pessoas que diferem de forma tão radical? Ele as persegue, as humilha ou as rejeita, ou profere mentiras a seu respeito para depreciá-las.
Há algo, porém, que diferencia a última bem-aventurança das outras. Nós não devemos buscá-la. A perseguição vem naturalmente – é inevitável, pois a verdade e o erro, a luz e as trevas, o bem e o mal não estão em harmonia. É horrível pensar nisso, mas é verdade: o primeiro filho que nasceu neste mundo tornou-se o primeiro assassino. “E por que [Caim] o matou [Abel]? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram justas” (1Jo 3:12).
Nos primeiros séculos da igreja cristã, algumas pessoas provocaram a perseguição. Uma delas foi um líder chamado Inácio, que foi levado para Roma e jogado para ser devorado pelas feras. Ao longo do trajeto, ele escreveu cartas em que antecipou seu destino e se deleitou em imaginá-lo. Se as feras selvagens se recusassem a atacá-lo, ele afirmou que as incitaria para virem atrás dele.
Ideias como essa não são sinônimo de coragem, mas de pensamento distorcido. A perseguição vem; mas não deve ser instigada. Mas quando ela vier, pois ela certamente virá a todos os que vivem piedosamente (2Tm 3:12), a promessa do Mestre virá também: “Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos Céus” (Mt 5:12).
Em viagem ao exterior, conversei em particular com o líder de uma igreja em que os seguidores de Jesus sofreram muito por causa de sua fé. Em um jardim isolado, longe de aparelhos de escuta, ele me disse: “Temo o dia em que estaremos livres. Sob as condições atuais, nosso povo é zeloso e fiel. Temo pelo materialismo que virá com a liberdade.”
Ele entendia a verdade da oitava bem-aventurança.

24 de outubro Quarta

A Cor do Dinheiro


Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. 1 Timóteo 6:10

O que você faria se encontrasse uma fortuna e ninguém estivesse olhando? Vamos dizer, 400 milhões de reais. Você guardaria ou procuraria o dono?
Dois sargentos do Exército dos Estados Unidos enfrentaram essa situação em 18 de abril de 2003, durante a invasão ao Iraque. Em meio ao caos após a queda de Bagdá, eles encontraram dois abrigos lotados de caixas de metal. Dentro de cada caixa havia quatro milhões de dólares em dinheiro, num total de 230 milhões. Os soldados devolveram o dinheiro. “Esses homens são verdadeiros heróis”, afirmou o comandante. Outros soldados, porém, foram à loucura. Começaram a inspecionar os arbustos, vasculhar prédios antigos e esvaziar cada depósito de lixo que viam pela frente, e acabaram encontrando um edifício semelhante àquele de que ouviram falar. As caixas estavam amarradas umas às outras. Dentro delas havia 200 milhões de dólares em notas de 100.
O poder do dinheiro entrou em jogo. “Naquele momento o mal imperou. O ar ficou pesado… Os olhares mudaram. Podia-se notar que todos estavam fora de si”, recordou um sargento, que mais tarde foi expulso do exército por causa de sua participação no roubo.
Os soldados começaram a encher os bolsos com maços de dinheiro. Dois homens jogaram duas caixas de dinheiro num canal próximo do local com a intenção de recuperar os oito milhões de dólares mais tarde. Outros esconderam 600 mil dólares em dinheiro dentro do tronco de uma palmeira.
Foi então que apareceu um oficial, que tinha acabado de guardar em segurança o dinheiro encontrado anteriormente. Ele soube imediatamente que algo estava errado. Bem à sua frente, a seis metros de distância, estava um maço de dinheiro enfiado entre dois galhos de uma árvore, totalmente à vista. Ele pegou o dinheiro da árvore e começou uma investigação. Três caixas que haviam sido escondidas foram recuperadas, uma delas incompleta. Ao todo, 780 milhões foram encontrados em quatro diferentes buscas. O dinheiro foi levado do Iraque, mas não antes de um motorista militar tentar roubar 300 mil a caminho do aeroporto.
Uma antiga canção costumava dizer: “O dinheiro é a raiz de todos os males.” Mas o problema não está no dinheiro em si, mas no amor ao dinheiro. A cor do dinheiro revela nossas verdadeiras cores.
Nós que seguimos o Senhor Jesus, Aquele que veio para dar, não receber, sabemos que as únicas riquezas que conservaremos são aquelas que damos aos outros.

25 de outubro Quinta

De Nada Terei Falta


De nada terei falta. Salmo 23:1

Todo mundo tem um salmo predileto, mas há um universalmente aclamado por causa de seus dizeres: Salmo 23, o salmo do bom pastor. Entre as muitas reflexões sobre esse salmo, um escritor da geração passada, G. Henderson, escreveu: “Do que não terei falta? O dedo da fé desliza pelo teclado e tira 11 notas distintas. Ouça-as.”
Atualizando a linguagem de Henderson e aperfeiçoando os pontos apresentados por ele, temos o seguinte:
Não terei falta de descanso, pois Deus me faz deitar em verdes pastagens.
A pastagem é macia e refrescante. Apoio a cabeça e relaxo no chão.
Não terei falta de restauração, pois Ele me conduz às águas tranquilas. Um grande gole de água pura e fresca – o que poderia ser melhor para saciar minha sede e restaurar-me?
Não terei falta de orientação, pois Ele me guia. Em meus relacionamentos, em minha família, em meu futuro preciso de ajuda que não encontro em mim mesmo. Louvado seja Deus, Ele é quem me guia!
Não terei falta de amizade, pois Deus está comigo. Ele promete: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13:5, ARA). Mais precioso do que qualquer companhia humana é o meu Senhor; mais forte do que qualquer laço carnal é o Seu amor.
Não terei falta de proteção, pois a vara e o cajado de Deus me sustêm. Ele estende Sua mão para me amparar. Em todo lugar, a todo momento, Ele está pronto a me ajudar.
Não terei falta de sustento, pois Ele prepara um banquete para mim. Ele me convida para a Sua sala de jantar, e Seu estandarte sobre mim é o amor.
Não terei falta de alegria, pois Ele unge minha cabeça com óleo. Como o óleo sagrado que escorreu pela barba de Arão, as bênçãos de Deus são derramadas sobre mim. Nunca falham.
De nada terei falta, pois o meu cálice transborda. Jesus é tudo o que eu preciso, hoje e sempre.
Não terei falta de felicidade, pois a bondade e a misericórdia me seguirão.
O que mais posso desejar?
Não terei falta de glória daqui por diante, pois habitarei na casa do Senhor para sempre. Apenas estar ali, apenas ver Jesus – será a glória.

26 de outubro Sexta

O Testemunho de Graeme


Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em Mim. João 14:1

Tenho um amigo de longa data na Austrália cuja vida foi amplamente diferente da minha. Devido a deficiências físicas, ele está restrito à vida limitada proporcionada por uma casa de apoio. Durante uma viagem recente ao país, eu o visitei. Ele expressou a frustração de seu testemunho cristão ser tão limitado. “Distribuo materiais para as pessoas aqui”, disse, “e tento conversar com elas sobre assuntos espirituais. Mas ninguém parece estar interessado.”
Graeme distribui pequenas mensagens de fé às pessoas à sua volta. Durante minha visita, ele partilhou algumas comigo:

Absolutamente amoroso,
Infinitamente verdadeiro,
Com Seu olhar carinhoso,
Entende-nos por inteiro.
Absolutamente terno,
Surpreendentemente perto,
Esse é o nosso Pai celestial –
O que temos a temer, afinal?

E esta também:

Levante uma pequena cerca
De confiança ao seu redor neste dia.
Preencha o espaço com obras de amor
E faça dele sua moradia.
Não olhe para a barra de proteção futura.
Deus o ajudará a suportar
Tanto a alegria quanto qualquer desventura.

Penso em Graeme na reclusão da casa de apoio. Seus prazeres são poucos, suas oportunidades limitadas. Mas ele não abandona a fé. E assim dá seu testemunho. Sua vida de fidelidade e essas palavras de confiança são partilhadas para a glória de Deus.
27 de outubro Sábado

Prisioneiros e Pizza


O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me ungiu para pregar boas-novas aos pobres. Ele Me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos. Lucas 4:18

Algum tempo atrás, a rebelião em um dos presídios australianos terminou de maneira inusitada. Um grupo de prisioneiros assumiu o controle da área da recepção da prisão de segurança máxima em Hobart, capital da Tasmânia. Exigindo melhor tratamento e melhorias nas celas, os prisioneiros fizeram uma lista de 24 itens. Eles imobilizaram um dos guardas e o fizeram de refém até que as exigências fossem atendidas. Após dois dias, a rebelião terminou pacificamente, sem a agitação do pelotão de choque munido de escudos e armas fogo, sem gás lacrimogêneo, sem tiroteio. A pessoa responsável pela negociação garantiu a liberação do guarda sem sofrer nenhum dano após a entrega de 15 pizzas. Aparentemente, nenhuma das 24 exigências listadas provaram ser tão urgentes quanto a necessidade de uma refeição diferente!
Pessoas angustiadas, pessoas que pensam que não têm nada a perder, agem com desespero. Mas a calma paciente de um mediador (e a expectativa de deliciosas pizzas após dois dias sem comer) pode acabar com o desespero de qualquer ser humano.
Em vários lugares da Bíblia encontramos os seguidores de Deus em prisões – não por causa de algum ato ilegal, mas por obedecerem à sua consciência. O jovem José, falsamente acusado pela mulher de Potifar, foi encarcerado. Muitos séculos mais tarde, o profeta Jeremias foi preso porque predisse a derrota de Jerusalém para os babilônios. No Novo Testamento, João Batista foi colocado atrás das barras de ferro e finalmente executado após denunciar o casamento ilícito do rei Herodes Antipas com a cunhada. O apóstolo Paulo foi preso várias vezes. No livro de Hebreus lemos a respeito de cristãos, cujos nomes não foram registrados, que foram presos por causa de sua fé (Hb 10:34; 13:3). E o relato bíblico é concluído com o Apocalipse, revelado pelo Senhor a João, durante seu exílio na ilha de Patmos (Ap 1:9).
Entre todos esses personagens bíblicos, nenhum jamais causou tumulto, fez reféns ou exigiu melhor tratamento. Eles confiaram em Deus; suportaram as dificuldades através dos olhos da fé nAquele que é invisível. Na verdade, todos nós somos prisioneiros, cristãos e não cristãos. O carcereiro é severo e cruel; Satanás é seu nome. Mas Jesus proclama liberdade para os prisioneiros: libertação das algemas do pecado, um novo começo. E um dia, o próprio cruel carcereiro será preso (Ap 20:1-3).

28 de outubro Domingo

O Caso da Galinha Distraída


Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Lucas 13:34

A humilde galinha, seja batendo as asas em voo ou ciscando o chão, carece de graça. Nenhum soneto de amor jamais a invocará; nenhum artista jamais a fará objeto de um afresco. Ela parece existir estritamente para propósitos utilitários – botar ovos e servir de alimento para os carnívoros. Pobre galinha! Nunca será elogiada como o pássaro azul, o sabiá ou a cotovia; nunca atingirá as alturas como a águia. Tudo o que recebe são gozações, como na fútil brincadeira: “Por que a galinha atravessou a estrada?”
Essa brincadeira, porém, foi levada a sério. Certa galinha foi multada (não estou inventando isso) por atravessar a estrada distraidamente! A multa foi emitida pelo delegado de Kern County, Califórnia. Na verdade, a galinha não recebeu a multa, presumidamente porque se recusou a recebê-la, mas os donos da galinha, sim.
A ré foi multada por impedir o tráfego em Johannesburg, uma pequena comunidade rural próxima a Ridgecrest, cerca de 350 quilômetros a nordeste de Los Angeles.
Agora, sim, sabemos por que a galinha atravessou a estrada: ela não sabia que atrapalhar o tráfego era ilegal. Mas isso não é tudo. A comunidade em que a galinha infringiu a lei tem uma população de apenas 50 residentes! Com uma multidão dessas, uma galinha distraída obviamente causaria um congestionamento.
Os donos da galinha alegam que foram multados porque reclamaram que os policiais não estavam executando satisfatoriamente o dever de supervisionar e controlar os veículos na estrada de terra. “Não”, foi a resposta dos guardiões da lei. “As galinhas na estrada é que são a causa do problema.”
Jesus certa vez relacionou Seu ministério à atitude de uma galinha com seus pintinhos. Dirigindo-Se ao povo de Jerusalém, Ele chorou diante do fato de que foram rejeitados Seus desejos e esforços em reunir o povo sob Seus cuidados. Ele ainda chora. Ele chora pelo mundo. Ele chora por nós.
Somos realmente tolos como os pintinhos que se afastam da mamãe galinha, recusando-se a atender seu cacarejo avisando do perigo; seu chamado para voltar à segurança de suas asas protetoras. Tolos como as galinhas distraídas. Mas a graça é para pessoas tolas como você e eu.

29 de outubro Segunda

A Canção da Eternidade


No princípio era Aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. João 1:1

Misteriosas, intrigantes, profundas, as palavras de abertura do Evangelho de João atraem nossa atenção. A linguagem em si é simples, tanto em nosso idioma quanto no texto original em grego, mas nos encanta. Trata-se de uma canção que ecoa desde a eternidade.
“No princípio…” Nossa mente é remetida para as primeiras palavras da Bíblia. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1, ARA). O princípio do Evangelho de João, no entanto, remete-nos para muito antes do nascimento da Terra e de nosso sistema solar: antes da criação do mundo, antes da existência do Universo, antes do tempo, antes de todas as coisas. Trata-se do princípio que antecede todos os princípios que possamos imaginar.
Somos criaturas de tempo e espaço; somos seres humanos. Mesmo que atingíssemos a média de idade bíblica, mesmo que vivêssemos por mais de um século, o número de nossos dias seria como uma fração de segundos em comparação com a eternidade. Pense no Universo, incompreensível em sua vasta imensidão, com estrelas tão distantes que a luz que irradiam, viajando a 300 mil quilômetros por segundo, leva milhões de anos para atingir nosso planeta. Essas estrelas estão tão distantes que muitas vezes já se apagaram há muitos anos, mas a luz que vemos continuou sua longa jornada até atingir nosso campo de visão.
E o princípio sobre o qual escreveu o apóstolo João é ainda mais distante, anterior a todos os princípios. Estejamos certos de que João se refere a um Ser que sempre existiu. A Palavra não é um ser recém-chegado na cena das eras. Tente imaginar a época mais distante que conseguir e ainda encontrará a Palavra.
A Palavra entrou no tempo e no espaço. Ela armou Sua tenda entre nós, tomou a forma humana. João fala resumidamente sobre isso e dedica o restante de seu Evangelho para descrever a glória da Palavra que Se fez carne. Essa Palavra que Se fez carne, a quem as pessoas chamaram de Jesus, parecia ser como qualquer outra pessoa. Mas não era. Veio de eras e eras, da eternidade.
De todas as considerações sobre Jesus de Nazaré, a pergunta suprema, a mais importante, é: Foi Jesus apenas um homem, ou Ele foi algo mais? João nos informa desde o princípio que Ele foi mais, muito, muito mais! Ele é eterno. Ele é Deus.
Ao longo da história, as pessoas têm questionado se Deus ou deuses existiram, têm procurado fazer contato com eles, satisfazê-los, apaziguá-los. João diz: Sim, Deus existe. Desde a eternidade. E Deus Se fez carne. Ele deixou a eternidade e Se submeteu ao nosso tempo e espaço. Ele veio para nos salvar. Jesus!

30 de outubro Terça

O Criador de Todas as Coisas


Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle; sem Ele, nada do que existe teria sido feito. João 1:3

A Palavra eterna, Aquele que é o grande comunicador da Divindade, é também o agente da criação. Estamos habituados a pensar em Jesus, a Palavra que Se fez carne, como nosso Salvador. Com menos frequência nos damos conta de que Ele também é nosso Criador. Mas Ele é. João afirma que “sem Ele, nada do que existe teria sido feito”. Paulo vai ainda além: “Pois nEle foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele” (Cl 1:16).
Tal visão transforma nossa maneira de olhar o mundo ao redor. O mundo natural com suas variedades deslumbrantes de árvores, plantas, flores e ervas; com maravilhosa imensidão de espécies de vida animal – Ele criou tudo. Não aconteceu por acaso; é Sua criação.
Os seres humanos em especial são o auge de Sua atividade criativa. Ele nos criou um pouco menores do que os anjos, à Sua imagem, à semelhança de Deus. Por meio do ato da criação, Ele conferiu dignidade a cada homem e mulher nascido neste mundo. É verdade, a imagem de Deus foi quase removida pelo pecado, mas restam alguns traços. A pessoa que zomba de outro ser humano zomba do Criador; a pessoa que prejudica outro ser humano, um dia terá que prestar contas ao Criador.
A conclusão dessa grande verdade é: Ele também me fez. Sou especial. Tenho valor. Minha origem é divina, a despeito de quão modestas tenham sido as circunstâncias de meu nascimento. Tenho um destino divino, pois Ele quer que eu viva para sempre em Sua presença.
Carregamos os traços da imagem divina, possuímos o desejo e a habilidade de “criar” também, ainda que em nível muito inferior. Algumas pessoas compõem músicas maravilhosas; eu não. Algumas pessoas fazem peças de mobília, constroem casas; eu não. O mais próximo que meus esforços chegam da criatividade é por meio da escrita. Para mim, escrever tem sido um hobby vitalício. Criar textos me traz muita satisfação. Notei um fenômeno interessante: aquilo que escrevo assume vida própria. Cada leitor interpreta meu artigo ou livro de acordo com sua própria experiência. Eles encontram significado em trechos que eu não incluí conscientemente. Se eu protestar, dizendo: “Mas não foi isso que eu quis dizer!”, eles respondem: “Bem, mas foi assim que eu entendi!”
De certa forma, assim ocorre com Deus e conosco. Ele nos criou, mas Ele permite que sigamos o caminho que escolhemos.

31 de outubro Quarta

O Triunfo da Luz


A Luz da vida brilhou nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-La. João 1:5, The Message

Nunca conseguiram, nunca conseguirão: as trevas não podem apagar a luz. Às vezes, as trevas são tão densas que parece que conseguiremos tocá-las. São impenetráveis, parecem estar totalmente distantes da Luz; mas a Luz vem e dissipa as trevas.
Sou otimista. De vez em quando, encontro ou fico sabendo de pessoas terrivelmente preocupadas com o estado do mundo. Está tudo arruinado, dizem; as coisas nunca foram tão ruins. Elas conseguem enxergar apenas o pior para o futuro. Às vezes lançam seu olhar negativo para a igreja: ela se corrompeu e está piorando; tempos ainda piores virão.
Mas as trevas não podem apagar a Luz. Nunca conseguiram, nunca conseguirão. Ao longo dos séculos, em meio à maldade e à ignorância tão escuras como a meia-noite, Deus sempre teve um povo que O amou e O serviu, um povo que brilha como a luz de velas, dispersando a escuridão.
Assim também foi antes de Jesus iniciar Seu ministério. O povo vivia em trevas, de acordo com a Bíblia (Mt 4:16). Mas entre aqueles que habitavam na sombra da morte surgiu uma luz brilhante. Primeiro, João Batista, que Jesus chamou de “candeia que queimava e irradiava luz” (Jo 5:35). Em seguida, o próprio Jesus. Ele foi, e é a Luz do mundo. Assim, o período de profunda ignorância e escravidão, ao pecado e ao diabo, deu lugar a uma era de luz incomparável.
A mais densa escuridão ainda surge pouco antes do alvorecer. No momento em que parece não mais restar esperança, a ajuda está prestes a aparecer.
No século 19, uma expedição liderada pelos exploradores Robert Burke e William Wills partiu de Melbourne na tentativa de cruzar pela primeira vez a Austrália, de norte a sul. Finalmente, chegaram a Cooper’s Creek, uma região muito remota. O grupo permaneceu ali, enquanto Burke e Wills prosseguiram, com o objetivo de chegar ao mar. Os que foram deixados para trás esperaram por muito tempo, mas os líderes não retornaram. Por fim, concluíram que Burke e Wills tinham morrido. Levantaram acampamento, mas antes enterraram alguns alimentos sob uma árvore em cujo tronco escreveram: “Cave.”
Logo depois que partiram, Burke e Wills apareceram e encontraram os alimentos enterrados. Mas os líderes e o grupo nunca mais se encontraram, e Burke e Wills acabaram perecendo. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe!
Nunca se esqueça disto: a Luz ainda brilha e sempre brilhará.

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